Primeiro encontro da Atividade de Extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas”

As atividades do segundo semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero começaram! A nossa ação de extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas” teve seu primeiro encontro no dia 01 de setembro, com a exposição da coordenadora do LIEG e professora Lídia Maria Vianna Possas.

Nesse semestre, trabalharemos com textos da coletânea Panoramas da violência contra mulheres nas universidades brasileiras e latino-americanas, organizada por Tânia Mara Campos de Almeida e Valeska Zanello. A exposição da Lídia apresentou os pontos principais do artigo VIOLÊNCIA DE GÊNERO NAS UNIVERSIDADES: um panorama internacional do problema. Assim como trabalhos e pesquisas do LIEG têm feito, o texto buscou explorar o tema da violência de gênero nas universidades em uma abordagem internacional com base em pesquisas bibliográficas e documentais. Elaborou-se a hipótese de que a temática é questão fundamental no contexto da globalização contemporânea, apesar das disparidades socioeconômicas de cada país, ela revela a dinâmica de dominação e opressão na estrutura das relações de gênero nos espaços de ensino superior.  

O texto é dividido em três seções, que abordam: características particulares da violência contra mulheres; análise de dados sobre a violência; tendências da violência contra as mulheres na pauta da sociedade global. A relevância de trazer essas discussões, como porta de entrada para leitura da coletânea, reside no fato de que consegue sinalizar e demonstrar que o problema da violência na universidade – que afeta toda comunidade acadêmica – é global.  Dessa maneira, surge a necessidade de compreender esse fenômeno em escalas maiores para que, assim, seja possível dialogar com as formas de sua manifestação.

Por fim, as autoras Melina Lima e Eleonora Ceia concluem que o cenário, em todas as universidades as quais apresentam casos de violência contra mulheres, demonstra: o baixo índice de denúncias; o fenômeno recorrente da revitimização pelas instituições; preconceito machista e o estigma social sofridos; sentimento comum de responsabilização pela violência sofrida e o medo que mulheres sentem de terem suas carreiras prejudicadas. Portanto, o ambiente hostil e violento, já comprovado, analisado e observado em milhares de universidades ao redor do globo, continua a posicionar as mulheres como a maioria das vítimas das situações de violência de gênero nessas instituições.

Ao lado esquerdo: cartaz de divulgação da atividade. Ao direito: Profa. Lídia Possas

Últimos dias para inscrição na Atividade de Extensão 2° semestre 2022: “Violência de Gênero nas universidades brasileiras e latino-americanas”

Convidamos a todos, todas e todes a participar da atividade de extensão do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero (LIEG/UNESP-Marília), nesse segundo semestre de 2022, em colaboração com os parceiros do Instituto de Políticas Públicas de Marília (IPPMar) e do GT-Gênero (Anpuh-SP). 

A Atividade de Extensão do LIEG, no segundo semestre de 2022, estará centrada na discussão e reflexão sobre os capítulos da coletânea Panoramas da violência contra mulheres nas universidades brasileiras e latino-americanas, organizada por Tânia Mara Campos de Almeida e Valeska Zanello. 

Nossos encontros abordarão as seguintes temáticas: panorama internacional da violência de gênero; as contribuições científicas para prevenção e superação do problema nas universidades; contexto da violência de gênero e assédio sexual nas universidades de Colômbia, Chile e Equador; as indígenas mulheres frente à violência nas universidades brasileiras; análise sociogendrada das emoções e subjetividades nesses casos e, por fim, uma investigação da problemática a partir da experiência de uma Audiência Pública em Brasília

Portanto, nos apropriaremos de leituras e conceitos sobre a temática e daremos espaço para que cada integrante do Laboratório possa compartilhar os avanços, questionamentos e reflexões gerados pela pesquisa.

Este é o formulário de inscrição (clique em cima) para quem desejar participar das reuniões que ocorrerão no formato remoto (GoogleMeet), quinzenalmente, às quintas-feiras, das 14h30 às 17h. As atividades estão previstas para iniciarem no dia 01/09/22 e acabarem no dia 01/12/22.
Será emitido certificado para aqueles/as que comparecerem em pelo menos metade dos encontros (50% ou mais de presença).

Período de inscrição do formulário: 18/08 – 28/08.

LIEG compartilha e reconhece avanços na UNESP

Unesp fortalece enfrentamento a violências na universidade ao criar política institucional, que constitui comissão de acolhimento e define formas de violência.

“A Unesp formalizou a criação de uma política institucional para o enfrentamento de diversas manifestações de violência que podem atingir a comunidade universitária, com o objetivo de proteger estudantes, docentes, servidores técnico-administrativos e demais colaboradores ou participantes das atividades universitárias de discriminação e assédio realizados dentro da Universidade”, segundo notícia.

De acordo com a matéria, entre as ações previstas na portaria está a criação de uma Comissão Central de Acolhimento, que tem como objetivo ouvir a pessoa vítima e buscar caminhos possíveis para ajudá-la. De fato, o surgimento dessa iniciativa traz visibilidade à problemática e traça caminhos concretos de mudança para o acolhimento das vítimas.

A professora Ana Maria Klein, que participou de uma das atividades de extensão do LIEG e é assessora da Coordenadoria (Caadi), afirma: “Na universidade, coletivos, pesquisas, aulas, debates, cursos dentre outras atividades têm contribuído para que estas violências sejam reconhecidas e enfrentadas como tais.  Todas estas ações, que já vêm acontecendo na universidade, são agora consolidadas como uma política institucional”.

De acordo com pesquisa do jornal Distintas Latitudes (2019), realizada em 100 universidades da América Latina, 60% dessas instituições de ensino superior carecem de políticas para lidar com denúncias de assédio sexual. É nesse sentido que a UNESP, com as iniciativas, começa a de fato enfrentar o problema da violência de gênero e sexual nos seus espaços de ensino. Segundo Claudia Maria de Lima, ouvidora geral da Unesp: “A instituição da política dará mais força à Ouvidoria de Serviços Públicos da Unesp, não só à Ouvidoria Geral. Uma vez que as ações são padronizadas e coordenadas pela Ouvidoria Geral, todas as ouvidorias devem agir na direção mudar uma cultura de violências presente nas relações da sociedade brasileira”.

Podemos afirmar que estamos observando um avanço na tentativa de mobilização e enfrentamento da violência na UNESP. Dentro da universidade as mudanças ocorrem como consequência da mobilização dos diversos setores. É nesse sentido que o trabalho de pesquisadores, docente e estudantes, com o objetivo de tornar a violência tangível, balançou as estruturas institucionais e trilhou o caminho para a instauração dessa política de escuta feminista.

Último encontro da Atividade de Extensão Construindo Diálogos “Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências”

As atividades do primeiro semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero chegaram ao fim! A nossa ação de extensão Construindo Diálogos “Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências” teve seu último encontro no dia 07 de julho, com a exposição de Natalia Silveira de Carvalho, professora e advogada, e de Ana Maria Klein, professora da UNESP do campus na cidade de São José do Rio Preto e membro da Coordenadoria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (CAADI).

A professora Natalia apresentou um pouco sobre sua pesquisa diante da temática da violência de gênero e da resistência feminista na Universidade. De acordo com uma citação da própria Lídia Possas, coordenadora do LIEG, a vivência no espaço universitário é perpassada por relações cotidianas e práticas essencialmente misóginas, conservadoras, elitistas e, de fato, contraditórias, pois não condizem com os discursos e a retórica de pessoas “esclarecidas”. A resistência com relação à violência nas universidades representa uma transformação significativa do espaço, que agora é palco do alargamento dessas frentes feministas.

As experiências femininas na Universidade, enquanto uma ideia que inclui também como corpos femininos são afetados, precisa ser analisada nesse espaço estrutural de produção e reprodução social de práticas sexistas, racistas e LGBTQIA+fóbicas. É nesse sentido que a violência de gênero e sexual atravessa a vida de diversos sujeitos no ambiente universitário, na medida em que é instrumento de manutenção e poder desse ordenamento, que marginaliza e violenta determinados corpos.

Nesse cenário, as resistências permanecem na luta e as universidades ainda têm muito trabalho pela frente, no sentido de responsabilização e atuação contra práticas de violência em seus ambientes. A fala de Ana Maria Klein nos auxiliou a visualizar quais são as melhores iniciativas e como proceder nesses casos. Segundo a professora, a UNESP tem desenvolvido uma série de ações educativas e regimentais que visam o enfrentamento à violência na Universidade. Para Klein, a institucionalização de tais políticas se consolidam com a criação, em 2022, da Coordenadoria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (CAADI).

Precisamos dar visibilidade e apoiar a instauração de políticas e de coordenadorias que visam à equidade, respeito e promoção dos direitos. São tempos difíceis para as mulheres e para os “desviantes”. O Brasil não dá descanso e nas universidades, enquanto reflexo da nossa sociedade, não é diferente. O trabalho que o LIEG tem realizado demonstra sua importância todo dia, na medida em que os casos de violência nas universidades não cessaram, mas encontram barreiras quando se chocam com nosso trabalho e movimentação.

Pesquisadora do LIEG tem texto publicado no jornal O Clarim

A convite do Coletivo de Mulheres Marília, eu, Bruna Oliveira, pesquisadora de iniciação científica do Laboratório de estudos de gênero, tive a oportunidade de escrever uma coluna para o jornal O Clarim, da cidade de Echaporã-SP, que foi publicado na edição 291 do jornal, no dia 22 de junho de 2022.
Atualmente estou com um projeto financiado pelo CNPq intitulado “Enfrentamento de Violência de Gênero na Universidade: situações de assédio e parcerias necessárias para além das fronteiras” em conjunto com o LIEG. Segue abaixo o texto na íntegra:

Que universidade queremos?
O livro “Um teto todo seu” reúne palestras que a escritora Virginia Woolf ministrou em
universidades da Inglaterra. Nessas palestras ela discorre sobre a diferença de educação que ela e suas irmãs tiveram em relação a seus irmãos homens, que puderam frequentar a universidade e obterem educação formal. Já ela, mesmo sendo uma palestrante, não poderia sequer entrar na biblioteca da mesma universidade que a convidou sem um acompanhante do sexo masculino. E a sensação da escritora é que mesmo estando fisicamente presente naquele espaço, ela não era completamente bem-vinda.
Mas e a universidade hoje? Segundo o INEP, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais, já em 2017 as mulheres predominavam em cursos superiores no Brasil. O
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) em 2019 também revelou que mulheres negras são maioria nas universidades públicas brasileiras, o que é consequência direta da política de cotas para negros, pardos e indígenas. Claramente é um avanço inegável desde os tempos da Virginia Woolf, mas essas mulheres que agora ocupam o espaço acadêmico se sentem bem-vindas?
As lutas das mulheres e minorias identitárias tem avançado. Os movimentos feministas tem abraçado lutas e resistências das distintas demandas sociais. Chegaram à periferia com pautas contra a violência, desigualdade salarial, assédio, liberdade reprodutiva e sexual, e não é diferente na universidade. E apesar das inúmeras resistências convivemos ainda com a permanência de um sistema formado por homens brancos, heterossexuais e elitizados que não acolhe essas transformações sociais dentro do ambiente acadêmico. O que antes era silenciado, abafado e mantido entre as paredes da instituição tem conseguido encontrar a atenção necessária dentro e fora da academia. Nos últimos anos temos visto notícias de alunas, alunos e alunes que não se calaram diante das violências sofridas dentro da universidade e passaram a se organizar e se manifestar contra o assédio no espaço acadêmico, enfrentando os comportamentos abusivos vivenciados e exigindo que a universidade se tornasse um espaço mais inclusivo, seguro e livre de assédio.
Para Sara Ahmed, escritora e intelectual australiana, o ato de denunciar expõe a vítima, que passa a ser estigmatizada, e precisa enfrentar a “mecânica institucional” que trabalha na contramão, dificultando o processo de reclamação pelos órgãos de gestão do sistema. Há resistência das universidades (além de outras questões como o corporativismo dos professores e morosidade das investigações) que dificultam o processo de reclamação e de acolhimento dessas vítimas. A presença de órgãos como “ouvidorias” e “corregedorias”, como parte das instituições acadêmicas que se colocam como um “ouvir especializado”, tem colaborado como um espaço de denunciar os comportamentos abusivos, como assédio moral, assédio sexual, racismos e LGBTQIA+fobia. No entanto as
ouvidorias acabam assumindo uma função de quantificação, gerando descrença coletiva por parte das reclamantes sobre a eficácia do sistema.
A partir de 2014, observamos diversos movimentos de resistência organizados pelos
estudantes, através de coletivos estudantis, sejam feministas, antirracistas e/ou anti
LGBTQIA+fobia, que fortalecem laços de proteção para as vítimas. Mas temos ainda um longo caminho a percorrer na divulgação de uma questão/situação que durante longo tempo viveu soterrada institucionalmente. Heloísa Buarque de Almeida, antropóloga e docente da USP, fala da existência de um currículo oculto na universidade: “Numa universidade aberta à entrada das mulheres (…) uma espécie de currículo oculto é posta em ação. Trata-se de um mecanismo de manutenção e reprodução de hierarquias, num processo de naturalização do impulso e da predação sexual como atitudes normais – mesmo entre homens dos cursos mais elitizados do país. Numa certa medida, se expressa assim como as desigualdades de gênero se reproduzem entre as elites universitárias.” Nesse cenário torna-se extremamente necessário a criação de políticas que buscam o fim da violência de gênero. Tanto no Brasil quanto na América Latina, algumas universidades tem se debruçado, cada uma a sua maneira, em investigar e propor alternativas, criando protocolos, comissões e tutoriais que visam a prevenção e enfrentamento do assédio e o acolhimento das vítimas, e precisamos com urgência nos dedicar a esse movimento de superação do assédio dentro do ambiente acadêmico, para que a universidade se
torne um lugar de convivência e permanência, e não apenas sobrevivência para os grupos
minoritários, que são as principais vítimas de assédio dentro do espaço acadêmico, seja esse assédio sexual, moral ou até mesmo psicológico.
Então, a questão que quero deixar para reflexão é: como sobreviver em um espaço acadêmico que não acolhe as vítimas? E essa questão da sobrevivência é algo muito discutido dentro do LIEG – UNESP e pela Sara Ahmed em toda sua obra, mas especialmente em seu último livro Complaint! (que seria Reclamação ou Queixa em tradução livre), no qual ela coloca o ato de reclamar como uma pedagogia feminista. Sara fala que devemos continuar batendo nas portas que não abrem, nas paredes que não quebram, mesmo que isso só cause barulho e descasque a tinta. Atrapalhar, reclamar e ser o que ela chama de “estraga prazeres” é o papel de toda feminista.

Sétimo encontro da Atividade de Extensão “Construindo Diálogos” – Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências.

As atividades do primeiro semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Construindo Diálogos “Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências” teve seu sétimo encontro no dia 23 de junho, com a exposição de Rosário Figari, professora e pesquisadora da Cátedra de Estudos para a Paz da Faculdade de Direito da Universidade Justus-Liebig de Giessen, na Alemanha.

A professora Rosário se disponibilizou para nos apresentar um pouco sobre sua pesquisa que diz respeito aos avanços e desafios diante da problemática da Justiça de Transição e da Violência de Gênero na América Latina. Sua apresentação foi dividida em 4 eixos temáticos: 1- O que é justiça de transição? 2- Como ocorreu a manifestação da violência de gênero no contexto de conflitos armados e ditaduras na América Latina? 3- Como a justiça de transição pode contribuir para o enfrentamento e reparação da violência de gênero no contexto de graves violações de direitos humanos? E, por fim, quais são os limites e desafios da justiça de transição?

A aplicabilidade da justiça de transição, segundo a professora, possui diversas abordagens e, dentre elas, a restaurativa, transformadora e ordinária foram apontadas e utilizadas em alguns países da América Latina pós período ditatorial ou de violação de direitos humanos. Na dinâmica da violência de gênero, segundo Rosário, durante as ditaduras do Chile e da Argentina, várias formas de violência sexualizada foram sistematicamente perpetradas por agentes das Forças Armadas, com o objetivo de desmoralizar e destruir física e psicologicamente aqueles detidos ilegalmente nessa época. Na Guatemala, 30 mil mulheres foram vítimas de violência sexual e a maioria dos atos foram cometidos por agentes do Estado durante o conflito armado no país.

Concluiu-se que as manifestações da violência de gênero, como instrumentos de disciplina social, foram utilizadas, de diversas formas, na América Latina durante períodos ditatoriais. De acordo com Rosário, a violência de gênero contribuiu para marcar e reproduzir hierarquias sociais de dominação e subordinação generificadas, de forma massiva e expansiva territorialmente. Nesse cenário, a impunidade foi e tem sido um fator crucial para a reprodução e legitimação dessa ordem de Gênero. É nesse sentido que, pesquisadores e pesquisadoras atentas aos mecanismos de manutenção dessas estruturas, como a violência de gênero, precisamos nos apropriar de teorias e conceitos que nos auxiliam, mais efetivamente, a compreender historicamente e socialmente esses instrumentos.

Sexto encontro da Atividade de Extensão “Construindo Diálogos” – Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências.

As atividades do primeiro semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Construindo Diálogos “Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências” teve seu sexto encontro no dia 09 de junho, com a exposição de Emilia Barbosa, professora assistente na Missouri University of Science and Technology nos EUA e pesquisadora-colaboradora do LIEG.

A professora Emilia fez uma exposição acerca do livro de Judith Butler, intitulado A força da não violência: Um vínculo ético-político (2021), que teorizou sobre como o uso da não violência utiliza instrumentos táticos da violência, principalmente pelo Estado e pelo sistema econômico que está inserido. O monopólio da violência, ou seja, a legitimidade em praticar a violência está somente nas mãos do Estado. Segundo Butler, esses aparatos são hábeis e conseguem manipular a “semântica da violência”, na medida em que possuem o poder de autorizar, desautorizar, censurar ou punir atos enquadrados como violentos.

A autora realiza essa análise ao partir de um olhar crítico diante a condição de vivência extremamente desigual em muitos Estado-nações ao redor do globo. A manutenção da desigualdade, permeada pelo racismo, sexismo, LGBTQIA+fobia e etc., se dá através da violência e da não-violência. Ao observar aquilo que Butler denomina de habitabilidade, a teórica realiza uma análise de como a falta ou mesmo a distribuição e acesso desiguais de infraestrutura, recursos materiais, alimentos, moradia e trabalho, são expressão das várias táticas da não violência.

O Estado, detentor da semântica e do monopólio da violência, não considera esse cenário de extrema precariedade como violento. É nesse sentido que na Introdução de seu livro, Butler contextualiza o leitor da realidade vivida pelos marginalizados, oprimidos e invisíveis, que vivem essa realidade. Logo, ao nos apropriarmos dessa leitura, o grupo do LIEG pôde refletir sobre a importância da aplicação e compressão do conceito dos usos da não violência, como recurso essencial para pesquisas que propõem essa postura crítica diante estruturas violentas e opressivas.

Quinto encontro da Atividade de Extensão Construindo Diálogos “Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências”

As atividades do primeiro semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Construindo Diálogos “Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências” teve seu quinto encontro no dia 26 de maio, com a exposição de Andréa Borges Leão, doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo e professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará.

As discussões do nosso encontro foram centradas pelo artigo de Andréa Borges e Antonio Cristian Saraiva, intitulado Figurações de sobrevivência em Primo Levi. Diálogos com Norbert Elias, em que eles utilizam obras de Norbert Elias, assim como de outros pensadores sociais, para desvelar as figurações de sobrevivência na narrativa de Primo Levi. O texto possibilita reflexões acerca da historicidade do testemunho, da memória e oralidade, localizados em contextos específicos, que sofrem influência da percepção do Eu e do coletivo em que estão inseridos.

Ao tratarmos das figurações de sobrevivência, Andréa nos auxiliou a refletir sobre o sobrevivente, como encarnado na pessoa do Primo Levi, que é analisado por Philip Roth como observador em movimento. Nós, pesquisadoras que trabalhamos com oralidade, precisamos estar atentas a isso, pois os sobreviventes – pessoas que serão ou são entrevistadas na nossa pesquisa – dão testemunhos que apresentarão tanto a percepção da própria experiência da sobrevivência quanto a externa, do coletivo social. É nesse sentido que a memória e o observador não são categorias fixas, pois podem ser alteradas durante o processo do tempo pós-traumático, que refletirá na entrevista.

Portanto, o encontro foi muito importante para compreendermos, categoricamente, o que significa realizar uma análise histórica-social dos testemunhos de sobreviventes, inseridos nos mais diversos contextos. As metodologias de pesquisa na História e nas Ciências Sociais, como a pesquisa de campo e a entrevista, estão sendo revisadas e revisitadas pelo grupo, na medida em que temos construído olhares críticos diante esses métodos.

Quarto encontro da Atividade de Extensão “Construindo Diálogos” – Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências.

As atividades do primeiro semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Construindo Diálogos “Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências” teve seu quarto encontros no dia 12 de maio, com a exposição da Camila Rodrigues, professora da Rede Estadual do Estado de São Paulo e doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista, campus de Marília.

A professora Camila apresentou sua pesquisa do doutorado e mestrado, diante das contribuições de Giorgio Agamben, em seu livro, intitulado O Que Resta de Auschwitz (1998). Agamben é um filósofo, autor de obras que percorrem temas que vão da estética à política e seus trabalhos mais conhecidos incluem investigações sobre os conceitos de Estado de Exceção, Homo sacer e a Vida nua e crua. De acordo com a pesquisadora Camila, no livro debatido, o autor objetiva compreender as dimensões da produção escrita dos sobreviventes do Holocausto nazista, a partir de uma análise profunda do papel do testemunho como documento histórico e de seus limites enquanto relatos pessoais.

Muitas das pesquisadoras do LIEG trabalham com mulheres ou pessoas vítimas de situações de violência, ou seja, sobreviventes. Esse conceito é essencial para compreendermos a posição de subordinação e vulnerabilidade dos sujeitos marcados e posicionados no sistema de gênero, raça, classe, geração, sexualidade e etc. É nesse sentido que, para Primo Levi e Giorgio Agamben, o testemunho é um documento histórico, pois permite que o relato se torne prova de fatos concretos. Nos casos de violência doméstica, tema do estudo de Camila Rodrigues, o testemunho não é suficiente para comprovar a veracidade dos acontecimentos. Isso ocorre devido ao fato de que as instituições policiais e jurídicas reproduzem práticas, comportamentos e falas permeados pela estrutura cultural e histórica machista e sexista.

De acordo com Camila, apesar das mulheres vítimas de violência disporem de espaços institucionais para realizarem denúncias, os mesmos não oferecem uma escuta acolhedora, pois não são propícios para que possam ser ouvidas. O acolhimento é precário por parte de alguns agentes jurídicos e policiais, que descredibilizam o testemunho das vítimas. Logo, foi possível visualizar e examinar o porquê da permanência e aumento dos casos de violência doméstica e a carência de políticas de gênero ou feministas, que pudessem amparar e diminuir os números das vitimadas. Com essa exposição, mais uma sessão da nossa atividade nos auxilia para construção de olhares e metodologias feministas, com o intuito de enriquecer nosso trabalho no grupo, enquanto coletivo ativo na Universidade.

Terceiro encontro da Atividade de Extensão LIEG 2022

As atividades do primeiro semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Construindo Diálogos “Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências” teve seu terceiro encontros no dia 28 de abril, com a exposição da Professora Valéria Barbosa Magalhães, docente da EACH/USP e coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em História Oral e Memória (GEPHOM/USP).

Nessa terceira sessão debatemos e refletimos acerca da discussão sobre ética nas pesquisas de história oral e das atuais perspectivas e casos dos comitês de ética em pesquisa. A fala da professora foi guiada a partir dos argumentos e ideias presentes em seu capítulo, componente do livro História Oral como experiência: reflexões metodológicas a partir de práticas de pesquisa. O debate foi essencial para reflexionarmos sobre as condições impostas a nós enquanto pesquisadoras e, especificamente, das questões de gênero e sensíveis à necessidade de estudar e olhar para o outro.

As metodologias e técnicas de pesquisa, em algumas das múltiplas correntes da História Oral, evocam tencionar as relações estabelecidas entre pesquisador e pesquisado. Partimos do entendimento de que o objeto do estudo, na realidade, possui agência e deve ser analisado conforme sua condição de sujeito ativo na sociedade. O LIEG, enquanto um grupo multidisciplinar, pôde apropriar-se de um fazer ciência que tenta subverter e alterar o modo como nos relacionamos com a pesquisa. Dessa forma, foi possível criar uma rede de pessoas resistentes aos moldes tradicionais da História e das Ciências Sociais, que nos aprisionam e limitam nossos meios de exercer a profissão.