Participação do LIEG no congresso da LASA 2023

O Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero LIEG/UNESP participou do Congresso da LASA 2023 (Latin American Studies Association), com o tema “América Latina y el Caribe: Pensar, representar y Luchar por los Derechos da LASA”, realizado entre os dias 23 e 27 de maio, em Vancouver, no Canadá, de forma híbrida. A proposta para a nossa participação foi através de um painel com a temática: “Ativismos Estudantis na UNESP-MARÍLIA: Queixa e Escuta como Pedagogia Feminista”, com as seguintes participações:

  • Beatriz Jorge Barreto, graduada em Ciências Sociais pela UNESP/FFC com o  trabalho “Escuta feminista e a revelação de violências invisíveis: análise dos movimentos estudantis na UNESP/Marília”;
  •  Beatriz Labadessa de Oliveira e Bruna Silva Oliveira, graduandas em Ciências Sociais pela mesma universidade, com os trabalhos intitulados, respectivamente, “Enfrentar o assédio, a presença da diversidade no espaço acadêmico: reclamar, captar histórias a partir de uma pedagogia feminista” e “Enfrentamento de Violência de Gênero na Universidade: situações de assédio e parcerias necessárias para além das fronteiras”;
  • Maria Inês Godinho, Dra. em Ciências Sociais pela UNESP como chair e session organizer com o trabalho “Ativismo ‘estraga-prazeres’ nas plataformas digitais: os coletivos universitários contra o racismo e a violência de gênero – USP/UNESP e UNICAMP”.

 O painel foi mediado pela Coordª.do LIEG/UNESP, Prof.ª Lidia Possas, membro da Gender and Feminism Sections da LASA.

A participação no evento fortaleceu nossa inserção transnacional, possibilitando ampliar espaços de diálogo com as universidades e pesquisadoras parceiras, além da divulgação das nossas pesquisas.

Agradecemos à LASA, especialmente a Gender and Feminism Sections pelo convite e a possibilidade de participação no congresso às Profª. Maria Emília Barbosa/Missouri University e a Profª. Castriela Hernández Reyes /University Massachusetts-Amherst.

Segue abaixo fotos do evento e do nosso painel.

Abertas as inscrições para atividade extensionista do LIEG – 1° semestre de 2023

Convidamos a todos, todas e todes a participar da atividade extensionista A luta feminista no espaço acadêmico: pesquisas qualitativas, diagnósticos e novos saberes” do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero (LIEG/UNESP-Marília), nesse primeiro semestre de 2023, em parceria com  Instituto de Políticas Públicas de Marília (IPPMar) e do GT-Gênero (Anpuh-SP).

Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero/LIEG/UNESP,  nesse 1º Semestre de 2023, propõe prosseguir na luta feminista dos estudos de gênero  que venham  ampliar as  discussões teóricas, explorando as dinâmicas da(s) existência(s) em relação ao enfrentamento da violência de gênero, do racismo, da LGBTQIA+fobia e  pontuando as formas e situações de “assédio” que emergem nas instituições de Ensino Superior, principalmente na América latina. Nos empenhamos em construir espaço de diálogo permanente com pesquisadoras(es) visando estabelecer parcerias que se preocupem em conhecer as práticas e avanços jurídicos recentes, as demandas de minorias sociais – que hoje correspondem à maioria numérica nas universidades – os movimentos sociais e de mulheres para compreender como e por que as formas de violência de gênero, de segregação e preconceitos são permanências em nossas instituições e na academia.
Temos como objetivo compartilhar com as/os participantes as questões relacionadas às temáticas apontadas e discutir  a  produção de conhecimento no campo dos estudos de gênero e da oralidade que vem se adensando  em uma perspectiva interdisciplinar e interseccional com  áreas afins.

Este é o formulário de inscrição para quem desejar participar das reuniões que ocorrerão no formato híbrido (GoogleMeet e Sala 5 do prédio novo da FFC), quinzenalmente, às quintas-feiras, das 14h30 às 17h. As atividades estão previstas para iniciarem no dia 20/04/2023 e acabarem no dia 27/07/2023.

Será emitido certificado para aqueles/as que comparecerem em pelo menos metade dos encontros (50% ou mais de presença), sendo  o total de 16 horas.

https://forms.gle/QWUQqdtgeDwH5gvJA

Dia Internacional da Mulher

Universidade em cena: na defesa da equidade de gênero junto às instituições!

Manifestação estudantil por uma educação não-sexista em Santiago, capital do Chile; no cartaz se lê: “A educação será feminista ou não será” – Nadia Martínez

“Uma das coisas que aprendi com o feminismo foi a suspeitar de tudo, dado que os paradigmas que são adotados em muitos âmbitos acadêmicos estão sustentados em visões e lógicas masculinas, classistas, racistas e sexistas.” (Ochy Curiel)

Em 1975, o dia 8 de março foi adotado pela ONU como Dia Internacional da Mulher, tendo como objetivo celebrar as conquistas sociais, econômicas e políticas das mulheres ao redor do mundo. Hoje, quase 50 anos depois, como podemos refletir sobre essas conquistas?

Quando pensamos em conquistas das mulheres, não podemos nos esquecer do papel crucial da educação. E hoje podemos dizer que a presença feminina no ensino superior foi alcançada: segundo o INEP, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, já em 2017 as mulheres predominavam em cursos superiores no Brasil, uma conquista que caminha junto com uma resistência de um espaço acadêmico historicamente masculino e patriarcal, movimento que revelou que conflitos existentes em todas as esferas da sociedade se repetem de forma sistêmica no interior das instituições de ensino, como assédio e violência de gênero.

De acordo com pesquisa do jornal Distintas Latitudes (2019), realizada em 100 universidades da América Latina, 60% dessas instituições de ensino superior carecem de políticas para lidar com denúncias de assédio sexual. O Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero /LIEG reconhece essas dificuldades das instituições e por isso tem se debruçado sobre o estudo de medidas de combate à violência de gênero e assédio sexual, que para o procurador regional do trabalho Raimundo Simão de Melo pode ser reconhecido como “o constrangimento com conotação sexual no ambiente de trabalho, em que, como regra, o agente utiliza sua posição hierárquica superior ou sua influência para obter o que deseja”.

A antropóloga Heloísa Buarque de Almeida, docente da USP, fala da existência de um currículo oculto na universidade: “numa universidade aberta à entrada das mulheres nas mais diferentes áreas acadêmicas e profissionais – e em que o número de mulheres tende a ultrapassar o de homens – uma espécie de currículo oculto é posto em ação. Trata-se de um mecanismo de manutenção e reprodução de hierarquias, num processo de naturalização do impulso e da predação sexual como atitudes normais – mesmo entre homens dos cursos mais elitizados do país. Numa certa medida, se expressa assim como as desigualdades de gênero se reproduzem entre as elites universitárias”.

A crescente visibilidade para esse assunto que anteriormente se mantinha entre as paredes da universidade criou uma mobilização interna e externa para mudanças de políticas institucionais e pedagógicas. Nós do LIEG reconhecemos ser necessário ampliar as pesquisas e refletir sobre as práticas existentes que sustentam os comportamentos abusivos, de modo a fundamentar a criação de políticas de prevenção, enfrentamento e sensibilização da comunidade acadêmica como um todo (docentes, estudantes e funcionários), fornecendo subsídios e conteúdo para ações pedagógicas visando enfrentar a “mecânica institucional” descrita por Sara Ahmed em seu livro Complaint!, que impede a denúncia de caminhar em um sistema feito para travá-la.

Nesse sentido, a UNESP tem avançado, visando combater os trâmites institucionais que dificultam o enfrentamento do assédio e da violência de gênero no espaço acadêmico. Em 26 de julho de 2022 foi criada a Portaria nº 68, que “institui a Política Educativa de Enfrentamento ao assédio moral, assédio sexual, importunação sexual, formas de discriminações e preconceitos em relação à origem, cor, gênero, orientação sexual, religião ou crença, nível socioeconômico, condição corporal física ou psíquica no âmbito da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP”.

Essa portaria também levou à criação da Comissão Central de Acolhimento da Unesp, que pretende ser um centro de apoio e ajuda para pessoas vítimas de violências, que geralmente estão vulneráveis e em sofrimento, e começou a atuar em março desse ano, como noticiado no Portal da Unesp. Para a professora Claudia Maria de Lima, ouvidora geral da Unesp e atual presidente da comissão, as pessoas que necessitam de auxílio se encontram fragilizadas, e o papel dos integrantes da comissão é oferecer suporte para que as vítimas tenham ferramentas para lidar com a situação traumática vivenciada. Para Claudia, “a intenção é mostrar que existem alternativas dentro do contexto universitário, desde a remarcação de uma prova ou até a transferência de unidade estudantil. Por isso que o atendimento se baseia numa escuta e apontamento de encaminhamentos possíveis nos âmbitos social, acadêmico, de saúde e legal, que incluem a orientação sobre medidas protetivas, aspectos médicos em redes de apoio, assistência social e jurídica.”

Com medidas como essas,  entendemos ser possível  pensar na transformação da universidade em um espaço que não apenas abre suas portas às mulheres e demais minorias, mas sim que possibilita que essas mesmas pessoas permaneçam e prosperem nesse ambiente, sem que abusos, violências e silenciamentos impeçam que se estabeleça uma educação realmente libertadora, acolhedora e feminista.

 Palavras do LIEG em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

LIEG repudia atos golpistas em Brasília, do último domingo (08/01)

Na tarde do último domingo, a Praça dos Três Poderes foi invadida e os prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto depredados e destruídos. O protagonismo dos atos foi dos seguidores e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, os camisas verde e amarela. Estes, carregando cartazes com mensagens golpistas, Fake News e lemas integralistas pela defesa de Deus, Pátria e Família, forjaram um dos maiores ataques às instâncias democráticas na História do país.

O LIEG analisa que a ampliação dos discursos e atos da extrema direita e seu respectivo domínio nos espaços de poder e decisão políticas, representam hoje uma das maiores ameaças aos campos progressistas e às lutas feministas, antirracistas e anticapitalistas. A aniquilação dessas ideologias começa com a punição dos depredadores e encontra seu caminho na construção coletiva e educativa.

Compartilhamos aqui as imagens que eternizarão os atos e o sentimento de perda e lesão daqueles que assistiram, de longe, as atrocidades.

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Invasão e vandalismo no Planalto
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LIEG deseja boas festas e já pensa em 2023

Em 2022, as atividades do LIEG/UNESP ensejaram muitas parcerias e trocas entre pesquisadores do grupo e outras universidades, as quais permitiram um avanço no campo teórico e conceitual dos Estudos de Gênero dentro da temática da “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas”.

Para 2023, uma de nossas metas é ampliar a atuação do coletivo nos espaços da Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, com o intuito de nos aproximarmos dos/as/es estudantes dos cursos da graduação e pós-graduação da unidade. Dessa forma, será possível dialogar com a comunidade acadêmica, como um todo, e traçar novas estratégias de enfrentamento ao fenômeno da violência de gênero na Universidade.

Esperamos continuar criando nossas parcerias com a CAADI (Coordenadoria de Ações Afirmativas Diversidade e Equidade), o IPPMar (Instituto de Políticas Públicas de Marília) e o Grupo de Trabalho de Estudos de Gênero da Anpuh-SP, e outras mais.

O LIEG deseja Boas Festas e um ano de 2023 de Renovação, Avanços e Acolhimento. Até breve!

Relembrar é viver! LIEG recebe Letícia Nascimento, autora do livro “Transfeminismo”

Texto de Vitor Lages.

Na quarta-feira, dia 26/10/2022, às 14hrs, tivemos a honra de receber no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp de Marília, em parceria com o LIEG, a Professora Letícia Nascimento, autora do livro “Transfeminismo”. A obra foi publicada em 2021 pela editora Jandaíra e compõe a Coleção Feminismos Plurais, a qual é organizada pela filósofa e feminista negra Djamila Ribeiro.

Letícia Nascimento é mestre e doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e professora da referida universidade. A partir de seu lugar de fala como mulher travesti, negra e gorda, nos instiga a pensar o feminismo para além da mulher cisgênera, heterossexual, branca, de classe média, magra e sem deficiências. Inicia sua obra com a famosa frase de Sojourner Truth, estadunidense negra que diante de uma plateia de mulheres brancas atônitas perguntou, em 1851: “E eu não posso ser uma mulher?”

Desta vez, com uma rica literatura do campo, Letícia busca abrir espaço no feminismo para sujeitas mulheres que, como ela, desafiam não só a branquitude mas a imposição da cisgeneridade como norma de compreensão do gênero conformada pelos órgãos genitais. Como a filósofa Judith Butler, apresenta um contraponto a teorias feministas que compreendem existir uma verdade biológica dos corpos – o sexo, o órgão sexual – e, a partir dessa verdade sexual, uma construção cultural e histórica sobre os papeis do sexo feminino e masculino na sociedade – o gênero. Ao contrário disso, o transfeminismo compreende o próprio sexo como uma dimensão discursiva, tal como o gênero. Ambos são construídos performativamente na cultura e na sociedade, existindo várias formas de mulheridades e de feminilidades que ultrapassam a barreira dos órgãos genitais considerados “de mulher”.

A estrutura machista que impõe o lugar subalterno de inferioridade social a todas as mulheres – cisgêneras, travestis, transexuais e não binárias –, em decorrência de suas diferentes feminilidades, precisa ser combatida através de uma frente ampla que considere suas diferentes interseccionalidades, e, consequentemente, as diferentes formas que a violência misógina as atravessa.

Mulheres travestis, transexuais e não binárias sempre estiveram no front de batalha, vítimas das mais perversas manifestações de machismo e transfobia em todos os âmbitos sociais, e hoje adentram às universidades e lutam para que seus olhares epistemológicos sejam também considerados dignos de estudo e defesa como integrantes da luta feminista tanto na academia quanto nos movimentos sociais. Esse é o brado coletivo de diversas precursoras da teoria transfeminista no Brasil, como Beatriz Bagagli, Bruna Benevides, Caia Coelho, Céu Cavalcanti, Hailey Kaas, Helena Vieira, Jaqueline Gomes de Jesus, Megg Rayara, Mariah Silva, Maria Clara Araújo, Sara Wagner, Yuna Vitória e de nossa convidada Letícia Nascimento. O papo com a autora foi muito instigante. Vale a pena conferir.

À direita: Vitor Lages.
Profa. Letícia Nascimento

Sétimo encontro da Atividade de Extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas”

As atividades do segundo semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero estão chegando ao fim! A nossa ação de extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas” teve seu sétimo e penúltimo encontro no dia 16 de novembro com a presença do mestrando em Ciências Sociais na UNESP-Marília e pesquisador do LIEG, Vitor Lages.

O encontro foi mobilizado pela discussão do texto intitulado Violência sexual no ambiente universitário: análise a partir da experiência de uma audiência pública no distrito federal, de autoria do doutor em Ciências Jurídico-Criminais pela Universidade de Lisboa, Thiago Pierobom de Ávila. Segundo o autor, o objetivo do artigo é, inicialmente, apresentar algumas considerações sobre o assédio sexual no ambiente universitário, a partir de revisão bibliográfica. Em seguida, Ávila analisa os aspectos jurídicos relacionados ao dever de proteção pelo Estado do direito fundamental das mulheres à não discriminação no ambiente universitário e, por fim, realiza um olhar crítico diante da audiência pública quanto a sua efetividade na materialização do dever de prevenção da violência sexual pelas universidades.

A apresentação do Vitor trouxe elementos e conceitos teórico-metodológicos essenciais na investigação da ocorrência violência de gênero nas universidades, a partir dos aspectos jurídicos e sociais, os quais abarcam a temática. Posto isto, o posicionamento metodológico do autor compreende o contexto de violência contra mulheres nesses espaços como reflexo do funcionamento da estrutura das relações de gênero. De acordo com essa escolha, a perspectiva teórica feminista decolonial foi utilizada nesse trabalho, na medida em que considera importante analisar os efeitos e os mecanismos coloniais e masculinizados da relação de dominação.

A discussão no encontro conseguiu se afastar dos maniqueísmos presentes nas análises superficiais da condição subordinada de existência das mulheres nos espaços de ensino superior. Isso significa que, ao estabelecer uma investigação crítica da efetividade dos instrumentos jurídicos, Vitor e os pesquisadores do LIEG conseguiram analisar a complexidade das esferas estruturais do direito e promoverem estratégias reais para o enfrentamento da violência sexual nas universidades. Concluímos que os tipos jurídico-criminais, convenções e recomendações, as quais buscam tipificar, identificar e proteger as vítimas das violências de gênero, podem se transformar em instrumentos efetivos de luta e enfrentamento contra esse fenômeno mundial – ao recordarmos de colocar em prática a postura crítica diante do Direito, enquanto sistema de normas historicamente e estruturalmente machista, racista, branco e liberal.

À direita: Vitor Lages

Sexto encontro da Atividade de Extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas”

As atividades do segundo semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas” teve seu sexto encontro no dia 10 de novembro com a presença da doutoranda em Ciências Sociais na UNESP-Marília e pesquisadora do LIEG, Juliana Adono da Silva.

 O texto apresentado e discutido, intitulado, ASSÉDIO SEXUAL NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO: uma análise sociogendrada das emoções e das subjetividades na transferência entre alunas assediadas e professores assediadores, aborda a temática a partir de perspectivas críticas e politizadas dos afetos. No texto, prioriza-se analisar, ou mesmo trazer à luz, os aspectos psicológicos e subjetivos na investigação da violência de gênero e do assédio sexual nas universidades, fato que proporciona um olhar refinado e diversificado da problemática.

Posto isto, as autoras Valeska Zanello e Iara Flor Richwin, reflexionaram e definiram quais as manifestações de violência mais frequentes no campo universitário, as reações mais comuns das assediadas e as três formas de assédio sexual, segundo Hernandez e Barraza (2021): o assédio de gênero, representado pelos comportamentos ofensivos sexuais que se apresentam de forma verbal, física e simbólica, podendo ser hostis, ofensivos e misóginos; a atenção sexual não desejada, que pode abranger expressões românticas e até mesmo manifestações sexuais mais diretas, que podem ser intimidatórias ou ofensivas; e a coerção sexual, caracterizada por condutas sutis ou explícitas, nas quais se demanda uma troca sexual para se adquirir benefícios laborais.

Podemos afirmar que esse texto, e a discussão subsequente, foi inovador na medida em que realizar uma análise sociogendrada da problemática da violência de gênero nas universidades. Logo, mesmo dentro do campo da psicologia, os conceitos e preceitos sociológicos foram utilizados para compreender as questões gendradas/generificadas na estrutura das relações de gênero nesses espaços de ensino. Portanto, recomendamos a leitura a compreensão aprofundada dos fenômenos sociais generificados nos aspectos subjetivos e emocionais imbricados ao assédio sexual, como:  as relações de poder/hierarquia nas universidades; o mandato do patriarcado; “leis” simbólicas – “ignorância cultivada” e “não saber”; autoculpabilização pela violência; os “medos” sobre os “custos” da denúncia; cumplicidade institucional e do grupo com o assédio; satisfação narcísica de ser “eleita” ou “escolhida” e etc.

À direita: Juliana Adono da Silva
Cartaz de divulgação do encontro

LIEG publica dossiê com edição especial “Violência de Gênero na Universidade”

No final de 2021, o grupo do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero da UNESP-Marília decidiu elaborar um dossiê sobre a temática da Violência de Gênero na Universidade, a qual norteia grande parte dos estudos de nossas pesquisadas. Segundo Lídia Possas, coordenadora do laboratório e do Grupo de Estudos Cultura & Gênero, a proposta teve por objetivo divulgar a produção acadêmica, fruto de experiências de pesquisas qualitativas e estudos realizados sobre o tema, que ainda
não detinham significativos resultados e publicações, uma vez que as investigações e os trabalhos são recentes.

Dessa forma, em colaboração com nossos parceiros, o Instituto de Políticas Públicas de Marília e sua respectiva revista, reunimos os artigos das pesquisadoras do LIEG, para publicá-los nesse Dossiê I. Com essa publicação, o trabalho realizado pelo grupo conquistou, finalmente, a devida visibilidade e relevância na área.

Para ter acesso ao Dossiê I. “Violência de Gênero na Universidade”, clique aqui.

Quinto encontro da Atividade de Extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas”

As atividades do segundo semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas” teve seu quinto encontro no dia 27 de outubro com a presença da doutora em Ciências Sociais e antropóloga, Michelle Carlesso Mariano.

A exposição e discussão, no encontro, centraram-se no texto REESCREVENDO HISTÓRIAS E INSCREVENDO-SE NO TERRITÓRIO ACADÊMICO: as indígenas mulheres frente à violência nas universidades brasileira, de Nanah Sanchez Vieira e Tânia Mara Campos de Almeida. Podemos afirmar que esse texto traz uma nova face para o nosso grupo de estudos e pesquisa, na medida em que passa a apresentar novos conceitos e metodologias para refletirmos diante das demandas das indígenas mulheres, frente ao cenário de violência nas universidades.

No texto, na visão da Michelle, as autoras renovam o olhar e a posição teórica e metodológica para dar conta da temática da violência contra pessoas indígenas nas universidades. Os conceitos utilizados, e suas respectivas interpretações, são apresentados a partir da perspectiva das políticas ontológicas, as quais priorizam compreender os fenômenos pelo que eles de fato são. Ao romper com as epistemes e reformular o pensamento científico, para analisar a ocorrência da violência étnica e de gênero nas universidades, as autoras destacam sobre os três momentos específicos nas narrativas das trajetórias das mulheres indígenas nesse contexto:

  • A difícil saída da comunidade até a chegada no ensino superior e pós-graduado;
  • A vivência no mundo acadêmico marcada por preconceitos, racismo, machismo e outras formas de ofensas, assédios cotidianos e desamparo institucional;
  • Por fim, a luta pela permanência na universidade até o fim de seus cursos.

As autoras, ao centralizarem a análise para a realidade de vivência sociocultural das indígenas mulheres nas universidades brasileiras – ou seja, para aquilo que realmente ocorre e impacta na vida desse grupo étnico e de gênero nesse cenário –, evocam para uma mudança estrutural e interna no funcionamento dessas instituições. Para compreender essa realidade, as autoras utilizam de alguns discursos de indígenas mulheres que conseguem adentrar na universidade – coletados por uma pesquisa de doutorado Indígenas mulheres acadêmicas: vozes insurgentes e corpos resistentes nas universidades brasileiras, como a fala de Neli Duarte, Marubo do Vale do Javari (AM), doutorando em Antropologia pelo Museu Nacional (UFRJ):

“[…] Quando chegou a notícia de que eu havia sido aprovada no curso, ainda houve quem chegasse para mim e dissesse coisas como: “Esse curso que você escolheu pouca gente escolha, porque só tem valor para as pessoas de fora”; “Fazer antropologia é perda de tempo”: “É um curso para quem não tem nada para fazer”; “É ainda pior no seu caso porque você é índia, como você vai estudar a si mesma?

As barreiras e dificuldades enfrentadas por esse grupo específico de mulheres, como citadas pelas autoras do texto, devem ser levadas em conta no momento em que as universidades passem a priorizar o lema da pretensa “igualdade” ou do acolhimento. Importante destacar que, no texto, as autoras apresentam a ideia de Judith Butler, quando a pensadora afirma que a negação realizada pelo mecanismo da foraclusão é da ausência da inscrição em um campo simbólico, que organiza e estabelece a dita realidade. Portanto, nesse campo de disputas simbólicas: “corpo-território”, terra, povo, família, espiritualidade, memórias e lutas das indígenas mulheres são violentados e esquecidos pelos aparatos de proteção e acolhimento dentro das universidades. Com isso, para as autoras, a presença indígena nessas instituições de ensino superior coloca problemas epistemológicos e conceituais de outra natureza que aqueles pautados pela inclusão.

À direita: Michelle Carlesso
Cartaz de divulgação do encontro