As atividades do primeiro semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero já começaram! A nossa ação de extensão Construindo Diálogos “Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências” teve os primeiros encontros nos dias 31 de março e 14 de abril, com a exposição da Professora Lídia Possas e Beatriz Barreto, ambas vinculadas à UNESP-Marília, do livro Os Afogados e os Sobreviventes: os delitos, os castigos, as penas, as impunidades de Primo Levi.
A coordenadora do LIEG, Lídia Possas, teve como objetivo introduzir o conceito de sobrevivência, a partir da perspectiva de Primo Levi, que foi levado para um dos campos de concentração de Auschwitz, em 1944. No final da Segunda Guerra Mundial, Levi era um dos únicos sobreviventes do carregamento de pessoas de seu trem. O ano de publicação do livro analisado foi 1986, no qual Levi reconstitui suas lembranças do cotidiano hostil no campo de Auschwitz e reflete sobre as condições políticas, sociais e culturais do período vivido.
A obra de Levi foi essencial para iniciarmos no aprofundamento de metodologias e teorias da história, que se apropriam da memória e do testemunho daqueles que sobreviveram a alguma situação traumática. Enquanto pesquisadoras/es das questões de gênero, é essencial considerarmos as perspectivas das pessoas posicionadas como vitimadas. Isso significa que compreender os mecanismos de violência, como a de gênero, demandam apropriação dos discursos produzidos por aqueles oprimidos.
A complexidade das consequências e resquícios causados por vivências perturbadoras precisa ser considerada, na tentativa de não realizarmos o que Primo Levi denomina de simplificações ou tendências maniqueístas. Assumir uma posição crítica, diante acontecimentos históricos ou pontuais de violência, humilhação, tortura e etc., exprime a necessidade de não reduzi-los a dois blocos, o das vítimas e o dos opressores. Verificar-se que existe opressão e oprimidos, mas admitir uma bipartição, como se houvessem personagens simplistas, esvazia a análise dos fatos.
Portanto, os primeiros dois encontros da nossa atividade de extensão fomentaram indagações, desconfortos e dúvidas. O nosso grupo do LIEG tem aprendido que compartilhar experiências de sobrevivência, assim como ouvir testemunhos, tornam nossas reuniões e pesquisas mais plurais e integrais, na medida em que acessamos cada vez mais a essas oralidades.