As atividades do segundo semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas” teve seu quarto encontro no dia 13 de outubro, com a exposição da pesquisadora do LIEG, Beatriz Jorge Barreto.
A exposição do texto VIOLENCIAS DE GÉNERO Y ACOSO SEXUAL EN UNIVERSIDADES CHILENAS Y ECUATORIANAS, de Mercedes Prieto e Andrea Pequeño, iniciou com uma breve contextualização do Chile e do Equador. Dessa forma, foi possível observar o quadro de ascensão das mobilizações progressistas em ambos os países e a tentativa, por parte da direita conservadora, de barrar esses movimentos. Observamos que essa contextualização foi necessária para analisarmos o cenário político da América Latina, como um todo, pois a ocorrência da violência de gênero e do assédio sexual nas universidades não estão descolados da sociedade civil.
As autoras do texto analisaram: acontecimentos os quais possibilitaram que a academia estivesse no dentro do debate, em 2018, de ambos os países; a configuração das denúncias e sua vinculação com a estrutura de poder institucional e, por fim, ofereceram uma reflexão sobre os caminhos em marcha para a prevenção e sanção dessas violências que colocam em discussão a justiça de gênero.
É importante destacar que as autoras teorizam sobre a “resposta” da sociedade diante das mobilizações e paralisações estudantis contra a violência de gênero e o assédio sexual nas universidades chilenas e equatorianas. Em 2018, depois de mais de 150 mil pessoas irem às ruas e de 15 universidades ocupadas e mais de 30 faculdades em greve no Chile, essa nova onda feminista espantou e surpreendeu vários setores sociais. Segundo as autoras, esse fato revelou a limitação da compreensão das violências, como é o caso das universidades, conjugadas enquanto “casa de estudos” e não como espaço de produção e reprodução social da violência e da circulação do poder quid pro quo (compensação por status).
As pessoas que ocupam os cargos mais altos e prestigiosos nas universidades, que em sua maioria são homens, são beneficiados pelo sistema de quid pro quo. Nesse sentido, a impunidade dos perpetradores de violência nas universidades, revela como essas práticas se tornaram legítimas no intercâmbio de lealdades. Portanto, para as autoras, a decisão de denunciar é um processo difícil, na medida em que corre-se o risco de ruptura com a “família universitária”, com um espírito de corpo essencialmente masculino e com uma ativa rede de favores.
Concluímos que não basta instaurar protocolos de atenção e ação frente os casos de violência, pois omitem e desconsideram o contexto e as lógicas de poder e desigualdades entrelaçados na problemática. Conforme as autoras, uma política à nível de reitoria está sendo muito mais promissora, como demonstra em uma universidade do Chile. Essa política cria condições de equidade no acesso, permanência e saída do corpo estudantil – com ações de acompanhamento das vítimas para denúncia, de garantia do desempenho acadêmico e da integração da equidade de gênero na vida universitária como um todo.
O LIEG está se mobilizando, enquanto coalização e rede de fortalecimento do movimento contra a violência/assédio sexual na universidade, para elaboração do Guia para o futuro da Universidade, em breve traremos mais informações.