As atividades do segundo semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas” teve seu quinto encontro no dia 27 de outubro com a presença da doutora em Ciências Sociais e antropóloga, Michelle Carlesso Mariano.
A exposição e discussão, no encontro, centraram-se no texto REESCREVENDO HISTÓRIAS E INSCREVENDO-SE NO TERRITÓRIO ACADÊMICO: as indígenas mulheres frente à violência nas universidades brasileira, de Nanah Sanchez Vieira e Tânia Mara Campos de Almeida. Podemos afirmar que esse texto traz uma nova face para o nosso grupo de estudos e pesquisa, na medida em que passa a apresentar novos conceitos e metodologias para refletirmos diante das demandas das indígenas mulheres, frente ao cenário de violência nas universidades.
No texto, na visão da Michelle, as autoras renovam o olhar e a posição teórica e metodológica para dar conta da temática da violência contra pessoas indígenas nas universidades. Os conceitos utilizados, e suas respectivas interpretações, são apresentados a partir da perspectiva das políticas ontológicas, as quais priorizam compreender os fenômenos pelo que eles de fato são. Ao romper com as epistemes e reformular o pensamento científico, para analisar a ocorrência da violência étnica e de gênero nas universidades, as autoras destacam sobre os três momentos específicos nas narrativas das trajetórias das mulheres indígenas nesse contexto:
- A difícil saída da comunidade até a chegada no ensino superior e pós-graduado;
- A vivência no mundo acadêmico marcada por preconceitos, racismo, machismo e outras formas de ofensas, assédios cotidianos e desamparo institucional;
- Por fim, a luta pela permanência na universidade até o fim de seus cursos.
As autoras, ao centralizarem a análise para a realidade de vivência sociocultural das indígenas mulheres nas universidades brasileiras – ou seja, para aquilo que realmente ocorre e impacta na vida desse grupo étnico e de gênero nesse cenário –, evocam para uma mudança estrutural e interna no funcionamento dessas instituições. Para compreender essa realidade, as autoras utilizam de alguns discursos de indígenas mulheres que conseguem adentrar na universidade – coletados por uma pesquisa de doutorado Indígenas mulheres acadêmicas: vozes insurgentes e corpos resistentes nas universidades brasileiras, como a fala de Neli Duarte, Marubo do Vale do Javari (AM), doutorando em Antropologia pelo Museu Nacional (UFRJ):
“[…] Quando chegou a notícia de que eu havia sido aprovada no curso, ainda houve quem chegasse para mim e dissesse coisas como: “Esse curso que você escolheu pouca gente escolha, porque só tem valor para as pessoas de fora”; “Fazer antropologia é perda de tempo”: “É um curso para quem não tem nada para fazer”; “É ainda pior no seu caso porque você é índia, como você vai estudar a si mesma?”
As barreiras e dificuldades enfrentadas por esse grupo específico de mulheres, como citadas pelas autoras do texto, devem ser levadas em conta no momento em que as universidades passem a priorizar o lema da pretensa “igualdade” ou do acolhimento. Importante destacar que, no texto, as autoras apresentam a ideia de Judith Butler, quando a pensadora afirma que a negação realizada pelo mecanismo da foraclusão é da ausência da inscrição em um campo simbólico, que organiza e estabelece a dita realidade. Portanto, nesse campo de disputas simbólicas: “corpo-território”, terra, povo, família, espiritualidade, memórias e lutas das indígenas mulheres são violentados e esquecidos pelos aparatos de proteção e acolhimento dentro das universidades. Com isso, para as autoras, a presença indígena nessas instituições de ensino superior coloca problemas epistemológicos e conceituais de outra natureza que aqueles pautados pela inclusão.